terça-feira, 30 de abril de 2013

# Fotógrafo Convidado do Mês Maio : Alfredo Cunha

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O regresso ao mundo do rio


"O miúdo não veio à escola outra vez — o malandro foi outra vez para o rio."

O rio foi a minha primeira grande experiência de liberdade. Voltei vezes sem conta durante a minha infância e parte da juventude, mesmo sabendo que iria sofrer as consequências. Não obriguem um miúdo a escolher entre a escola e um mergulhinho na liberdade.

O mundo do rio fez parte da minha infância, esteve sempre presente dentro da minha cabeça, transformou-se num cenário de memórias. A pena da fuga ao dever para ir para o rio é infinitamente maior quando somos adultos, o castigo deixa de nos ser indiferente, não é físico mas dói mais.

Se disser que passaram décadas, eu próprio não acredito, mas passaram mesmo. Regressei ao mundo do rio, não o mesmo rio, mas o mesmo mundo. Dentro daquele universo está quase tudo na mesma. Os mais novos, filhos e netos dos "mais novos" da minha idade, hão-de ser sempre os que mais se divertem. No mundo do rio, os grandes protagonistas continuam a ser os jovens.

O regresso à liberdade tem agora uma novidade: venho para fotografar. Passei da condição de habitante à condição de observador.

Este projeto fotográfico pretende registar aquilo que eu considero um dos últimos sítios onde ainda somos felizes. Aqui atingimos a curva do rio sem a angústia de pensar no que estará para lá dela. Estas fotografias são um plágio dos meus sonhos de muitos anos. Foram feitas tendo em conta as minhas recordações e as minhas vivências no mundo do rio.

Toda a estética destas fotos foge bastante à tradição da fotografia de rua, por implicar uma grande cumplicidade e participação dos fotografados. Eu próprio, durante este trabalho, voltei a dar os meus mergulhos e a reencontrar a sensação de liberdade total que o rio me tinha proporcionado há muito tempo atrás. Não me posso esquecer também das ofertas de arroz de tomate e peixe frito, e uns copitos de verde tinto, que fui comendo e bebendo durante estas sessões fotográficas.

Este conjunto de fotografias é o meu trabalho mais pessoal e revelador, onde a minha infância e juventude são mais expostas. É quase uma viagem no tempo; é um reencontro comigo próprio transformado em fotografia.

Sabariz, 4 de Setembro de 2012