sábado, 18 de dezembro de 2010

Porto Sec.XXI 2010

Ilha na zona de Campanhã
Dona Joaquina Pimenta

Porto, 17 Dembro 2010
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Porto, século XXI

Não era para ser assim.
As ilhas são o que são: espaços minúsculos enterrados num corredor comprido e apenas uma entrada comum para a rua. Espaços pobres, sim, mas o mal menor dentro do grande mal que se chama habitação social, dentro do grande mal que se chama pobreza e que se estende rua sim rua sim por muitas zonas da cidade do Porto.
Não era para ser assim. Joaquina Pimenta devia gostar de lá estar, na ilha em que vive há 12 anos, em Campanhã. Devia falar-nos dos vizinhos amigos que emprestam o arroz quando falta, da comunidade alegre, do ouvido paciente da porta da esquerda, dos olhos atentos da porta da direita.
Mas não fala em nada disso. Mostra. A casa minúscula enterrada no corredor onde tudo se pode passar porque quem passa não vê (não incomoda). A casa que mete água pelo telhado, que tem as paredes esburacadas, que tem a banca entupida, que volta e meia tem ratos. E, lá fora, em pouco mais de um metro quadrado entre quatro paredes, um buraco no chão – chamam-lhe casa de banho. Não importa se faz frio ou calor, se cai ou não cai chuva. É lá que tem de ir se a necessidade o pede. Não nos fala dos vizinhos amigos e não faz parte do grupo dos “nas ilha até que a morte me leve”. Abre a porta, leva as mãos à cabeça: “Que me tirem daqui, antes que a morte me leve”. É o Porto, século XXI.

Mariana Correia Pinto