Fotos:Paulo Pimenta
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Este senhor é meu pai, chama-se António Arezes. É sempre difícil falarmos sobre os nossos entes queridos sem um rasgo de emoção. É um conhecimento com dificuldade de distanciamento, pois está impregnado de ternura, imersa neste laço que nos une, o traço inexorável da filiação genética.
Há os que são condenados a trabalho(s) forçado(s), António Arezes foi, por seu turno, forçado ao trabalho desde muito novo. Nascido no longínquo ano de 1927, em Barcelos, começou a trabalhar com apenas 12 anos. A família era humilde e o conceito de trabalho infantil uma miragem. Apesar das adversidades, ganhou um ofício para a vida, o de barbeiro: aquilo que os mais antigos diziam ter… uma arte! Está quase a completar 83 primaveras, só há muito pouco tempo o trabalho deixou de ter um carácter regular para ele. Foram nem mais nem menos do que 70 anos de labuta! Coisa rara. “ Fiz muitos kilómetros com tesouras e navalhas”, faz questão de dizer. Tanto eu, como o meu irmão (que está sentado na cadeira nas fotografias) nunca demos a honra a outrem para tratar “do nosso escalpe”, é uma espécie de deferência para com a arte do nosso progenitor, um acordo de cavalheiros.
Em conversas casuais, daquelas em que os patamares académicos eram brandidos pelos circunstantes, no tão característico expediente lusitano de conversas pedantes, o meu pai nunca ficou mal, evoquei-o sempre como gente importante “ - E o seu pai, que faz? O meu pai é… Engenheiro Capilar!”.
João Fernando Arezes