domingo, 2 de maio de 2010
# Convidado do Mês de Maio Ricardo Meireles #
Título " Colecção de histórias banais sobre momentos embaraçosos ou lugares onde eu não queria ir "
"O Paulo pediu-me oito fotografias. Encontrei oito momentos com algo em comum.
Todas estas imagens foram feitas em lugares onde eu não queria estar, em momentos de desconforto. Mesmo assim aconteceu fotografia
. 2000, Porto - Siza Vieira apresenta um plano de renovação da Avenida da Ponte. O trabalho era numa noite de Sábado e estava marcado a um colega meu que adoeceu e faltou. Eu fui, contrariado. Ao chegar , deparo-me com o mestre misturado com os seus traços projectados na parede.
. 2003, Porto - Chego à redacção cansado. Más notícias, outro trabalho marcado daqui a duas horas. Precisava de casa, de sair da baixa, o Porto às vezes empurra-me para fora dele e aquela era uma dessas tardes em que me sentia expulso. Alguém olha pela janela e avisa-me da passagem de um bando de pássaros que sobrevoava a cidade num momento raro.
. 2005 - Eram quase dez da noite e ninguém queria sair da porta do tribunal de Felgueiras. Diziam que a Fátima, acabada de regressar do Brasil após sebastiânica ausência, sairia por aquela porta se a juíza lhe desse a liberdade. Diziam isso desde as dez da manhã. Após doze horas de fome, frio e teimosia captamos todos o rosto feliz da impunidade.
. 2007, Amazónia, Brasil - Novo Airão é uma cidade difícil e pouco simpática da Amazónia. Serve apenas de ponto de passagem para quem chega e quer apanhar um barco para as Anavilhanas, um dos maiores arquipélagos fluviais do mundo. Vim de Manaus, mas nesse dia não havia gente suficiente para o barco sair. Um dia fraco em visitantes atirou-me para a rotina de uma cidade onde não queria estar. Conheci a Dona Marília e um dos seus botos saltou da água suja do cais.
. 2007, Santarém do Pará, Brasil - Antes de atravessar os 16 quilómetros entre as margens do Rio Tapajós, o Senhor Bento, condutor experiente de um pequeno barco, teme que o vento nos atire para momentos difíceis no meio da travessia. A tempestade podia surgir. O céu estava carregado e eu não queria ficar no meio de um rio que quase parecia um mar. Desejei que a outra margem chegasse depressa. Só ao fotografar outra embarcação que fazia o percurso contrário percebi que éramos pequenos demais para aquele lugar.
. 2008, Braga- 38 graus . A SÁBADO encarrega-me de ser a sombra da Joana Vasconcelos durante 3 dias. Tardava a chegada do ajudante para escavar os alicerces do sapato gigante que ali seria exposto. Joana não espera mais. Pega na pá e lança-se ao trabalho que não devia ser o dela. De repente caio no dilema. Ajudo-a? Fotografo-a?
. 2008, Porto - Uma sessão de fotografia na faculdade de engenharia com uma equipe que produziu robots para um campeonato do mundo de futebol robotizado. Esperava grandes robots mas eram pouco maiores que um dedal. Esperava que a minha iluminação funcionasse, mas o material teve mais razão e sucumbiu a uma queda. A imagem fez-se com uma luz tímida de um pequeno flash e com um olhar fulminante do professor que segurava os pequenos bichos metálicos."
. 2010 - Ovar, Carnaval - Alguém no Jornal "i" se esqueceu de enviar o meu nome para a organização do Carnaval. Sem estar credenciado não tinha acesso ao desfile. Ou pagava bilhete para entrar ou ficava pelo início apenas. Paguei bilhete , mas a imagem do dia foi a dos bastidores...