sábado, 18 de junho de 2011
Procissão, encerramento do 30º Festival Fazer a Festa
Art`Imagem
Porto. 17 Junho 2011
Fotos:Paulo Pimenta
Ode ao burro, dois zurros, e um rio nosso que nos une
1. a missa, ó hereges!
Antes que as velas ardam até ao fim, zurremos. Ainda temos tempo! Antes que a santa ignorância tome conta de nós, excomunguemos o arlequim que zoa do portuense povo e lhe lança veneno perfumado: conspirações, sub-réptícias imposições, propaganda silenciosa, cobra dízimo para motores engrenados a ver-o mar, por estes dias, e um ai engasgado dos nossos bolsos (é, no fundo, um ui carpideiro antecedido de érre; reprobatório)
Excomunguemos esse diabo e sua corja, essa súcia gente que lhe beija as mãos, pousemos-lhe a cruz nas costas como um acossado (e os fantasmas dormem sempre na alcova se não os soubermos expulsar desta invicta cidade de rio, de ouro!).
Ide, perigrinai hoje aqui: tomai-lhe a casa dos espíritos: lá está ela, na praça mui nobre, municipal, para onde se vêem os Aliados, e um cavalo no fim da rua, que um dia há-de ele ter querido burro ser, de tanto se quedar sem sair do lugar. Doutos ignorantes uni-vos, zurrai, comungai da missa do burro, que, em terra de ignorantes, democracia não há- de isto ser; e a cultura pouco terá de douta, corrompida por hereges como nós!
2. auto de fé
A cera nas mãos cai. Outro ui sussurrado! Um esgar. Hordas de fiéis. Tribo errante. Lentos passos e, lá no alto: “ai, eu estive quase morto no deserto, e o porto aqui tão perto”. Ladainhas, lengalengas, milongas nocturnas, tantos ais!
E esse pavio, ainda por arder, mais devagar, nas nossas mãos, antes que a derretida cera, nos queime de novo. Mas estamos sôfregos, ofegantes de paródia, romagem dos (desa)gravados, Préstito dos Descontentes e Desvalidos, Pagelas e Jaculatórias. Do Largo Mompilher à Praça Felipa de Lencastre: peregrinemos...
A lavagem cerebral já se apossou: “Oh, rui, oh rui, atira-te ao rio.” Já se ouve. Como ecoa! Propalada melodia na boca das gentes. Canto mariano! Canto gregoriano em arruada na José Falcão. Ai, a massa popular: e emproados versículos, leituras inflamadas; apóstolos e doutos senhores bonacheirões da asnice, que do alto da sua posição, gritam zurros, como quem incendeia a fogueira: estamos mais perto do inferno, e a barca de gil vicente, em que navegamos, para outras margens (rios e afluentes) sempre pode levar os parvos (pequenos de massa que pensa) que se sentam em paço; os insensatos, o pedaço de mediocridade que se espalhou como praga na tripeira cidade nossa.
Os burros estão no alto, amarrados na cruz. Já os vemos e regozijamo-nos. Queimai-os. Antes que seja tarde! Livrai-nos, senhores, da bruxaria que vem dos rios! Livrai-nos, ó burros, da asnice alheia. É tempo de invocar as exéquias; requiem por uma cidade que um dia existiu. Mas ainda há tempo: as velas não arderam até ao fim!
Vanessa Rodrigues/Jornalista
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Porto. 17 Junho 2011
Fotos:Paulo Pimenta
Ode ao burro, dois zurros, e um rio nosso que nos une
1. a missa, ó hereges!
Antes que as velas ardam até ao fim, zurremos. Ainda temos tempo! Antes que a santa ignorância tome conta de nós, excomunguemos o arlequim que zoa do portuense povo e lhe lança veneno perfumado: conspirações, sub-réptícias imposições, propaganda silenciosa, cobra dízimo para motores engrenados a ver-o mar, por estes dias, e um ai engasgado dos nossos bolsos (é, no fundo, um ui carpideiro antecedido de érre; reprobatório)
Excomunguemos esse diabo e sua corja, essa súcia gente que lhe beija as mãos, pousemos-lhe a cruz nas costas como um acossado (e os fantasmas dormem sempre na alcova se não os soubermos expulsar desta invicta cidade de rio, de ouro!).
Ide, perigrinai hoje aqui: tomai-lhe a casa dos espíritos: lá está ela, na praça mui nobre, municipal, para onde se vêem os Aliados, e um cavalo no fim da rua, que um dia há-de ele ter querido burro ser, de tanto se quedar sem sair do lugar. Doutos ignorantes uni-vos, zurrai, comungai da missa do burro, que, em terra de ignorantes, democracia não há- de isto ser; e a cultura pouco terá de douta, corrompida por hereges como nós!
2. auto de fé
A cera nas mãos cai. Outro ui sussurrado! Um esgar. Hordas de fiéis. Tribo errante. Lentos passos e, lá no alto: “ai, eu estive quase morto no deserto, e o porto aqui tão perto”. Ladainhas, lengalengas, milongas nocturnas, tantos ais!
E esse pavio, ainda por arder, mais devagar, nas nossas mãos, antes que a derretida cera, nos queime de novo. Mas estamos sôfregos, ofegantes de paródia, romagem dos (desa)gravados, Préstito dos Descontentes e Desvalidos, Pagelas e Jaculatórias. Do Largo Mompilher à Praça Felipa de Lencastre: peregrinemos...
A lavagem cerebral já se apossou: “Oh, rui, oh rui, atira-te ao rio.” Já se ouve. Como ecoa! Propalada melodia na boca das gentes. Canto mariano! Canto gregoriano em arruada na José Falcão. Ai, a massa popular: e emproados versículos, leituras inflamadas; apóstolos e doutos senhores bonacheirões da asnice, que do alto da sua posição, gritam zurros, como quem incendeia a fogueira: estamos mais perto do inferno, e a barca de gil vicente, em que navegamos, para outras margens (rios e afluentes) sempre pode levar os parvos (pequenos de massa que pensa) que se sentam em paço; os insensatos, o pedaço de mediocridade que se espalhou como praga na tripeira cidade nossa.
Os burros estão no alto, amarrados na cruz. Já os vemos e regozijamo-nos. Queimai-os. Antes que seja tarde! Livrai-nos, senhores, da bruxaria que vem dos rios! Livrai-nos, ó burros, da asnice alheia. É tempo de invocar as exéquias; requiem por uma cidade que um dia existiu. Mas ainda há tempo: as velas não arderam até ao fim!
Vanessa Rodrigues/Jornalista