sexta-feira, 25 de junho de 2010

# Instruções para fazer voar um balão de papel #

A primeira coisa que há a fazer quando se quer lançar um balão de papel na noite de S. João é comprar um balão de papel. Trata-se de um passo não obrigatório. Pode perfeitamente o estimado leitor optar por aproximar-se como quem não quer a coisa de quem já o tenha feito, do legítimo proprietário de um balão, portanto, e oferecer-se para segurar uma das extremidades do objecto, para emprestar o isqueiro que inflamará a mecha ou por qualquer outro pretexto. Ninguém leva a mal e, em poucos instantes, qualquer balão se encontra rodeado de uma pequena multidão solícita, fotógrafos, miúdos curiosos e adultos maravilhado pela possibilidade, ainda algo mágica, de fazer elevar um objecto com a leveza do ar aquecido. Uma tecnologia tão pobre e antiga como esta convive amenamente com telemóveis 3G com câmara de vídeo incorporada e localização por GPS e, na verdade, parece mesmo atrair mais atenções – e mais sinceras. A pequena multidão comenta, dá instruções, dicas, junta esforços e, por fim, quando o invólucro de papel colorido está cheio de ar quente, os braços acompanham a elevação inicial, as mãos acariciam uma última vez a superfície do balão antes de deixa-lo erguer-se no ar frio e transformar-se num ponto de luz cada vez mais pequeno que se afasta ao sabor das brisas. Cá em baixo, de nariz no ar, as pessoas gritam a aplaudem. E ninguém, sequer, liga ao fotógrafo meio louco que se pôs de gatas no chão e pousou a câmara no chão, debaixo do fole do balão, para, talvez, conseguir uma fotografia de que não se tinha lembrado antes.

Manuel Jorge Marmelo

Porto, 23 Junho 2010
Fotos:Paulo Pimenta
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