sobre a crise actual em Portugal.
Será apresentado no dia 12 Dezembro no Palácio Galveias em Lisboa pelas 18h30 e no dia 14 Dezembro
na FNAC de STªCatarina pelas 18h no Porto
Nuno Veiga
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Vende-se e Trespassa-se são as frases mais lidas nas montras da Rua do Comércio em Portalegre. É uma rua fantasma, quase sem clientes e com espaços comerciais a fechar todos os meses. É a imagem do comércio tradicional do nosso país. A drogaria de João Saldanha, com 65 anos de história, chegou a ocupar quatro números na rua. Agora, trespassa-se pelo valor da mercadoria.
Lara Jacinto
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Espinhosela - Bragança
Tiago é um agricultor de 21 anos que, ao contrario da larga maioria dos jovens da sua idade, não sonha abandonar a região. Nunca foi ao cinema, nunca assistiu a um concerto, afirma não sentir falta disso. A sua enorme ligação à terra permite-lhe ser feliz num lugar que sente como seu.
Adriana Moraes
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Setúbal. A fábrica de latas de conserva Mecânica Setubalense encerrou no final dos anos 80, tal como muitas das suas irmãs, depois de a terapia de choque do FMI ter trazido fome e bandeiras negras a Setúbal. 232 trabalhadores foram para a rua sem nunca chegarem a ver os salários que tinham em atraso. Hoje, as mesmas paredes ajudam à construção de casas clandestinas para algumas das famílias mais pobres do distrito.
O bairro tem crescido nos últimos anos e já serve de abrigo a cerca de 25 famílias. Cabo verdianos lutadores, muitos dos quais não conseguiam pagar a renda de casa nem encontrar trabalho numa das regiões mais afectadas pela explosão do desemprego em Portugal. As paredes nuas e frágeis escondem um acesso limitado e ilegal a água e eletricidade. A chuva traz medo de desabamentos e a polícia medo de expulsão.
Há 29 anos, a entrada do FMI em Portugal empurrou os trabalhadores da Mecânica Setubalense para o desemprego. O regresso do Fundo está a arrastar gente de volta para a fábrica, agora para viver nas suas ruínas.
Rodrigo Cabrita
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LISBOA
Apos a revolucao dos cravos, coloridos murais pintados nas ruas serviam para propaganda politica, palavras de ordem contra 48 anos de ditadura, igualdade e mais direitos para o povo.
Nos tempos de hoje com a troika, a crise social,
as medidas de austeridade, o desespero e a falta de prespectivas de um futuro melhor para muitas pessoas, observa-se um aumento de mensagens nas paredes das cidades.
Anonimos, movimentos, partidos?
Nao se sabe a autoria, mas e impossível ignorar.
Sao os murais de 2012
José António Rodrigues
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SAO MIGUEL Fernando, 41 anos de idade, natural de Rabo de Peixe, sao Miguel, Acores, e pai de 6 filhos, avo de 2 netos. Em casa, so a mulher e que recebe RSI, cerca de 300 euros. Faz parte de um grupo conhecido por catadores, homens que procuram no lixo o sustento para a familia.
A crise de 2012 ja chegou ao lixo, isto mesmo o afirmam há menos lixo, as pessoas deitam menos coisas fora
José Manuel Ribeiro
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LISBOA Parte de uma publicidade outdoor anunciando descontos em euros é visto mais de uma fábrica em ruínas de idade na periferia de Lisboa, 05 de fevereiro de 2012. O ESM, de 500 bilhões de euros (410 bilhões de dólares) fundo de resgate permanente que deverá estar operacional em Julho, é esperado para substituir o EFSF, um fundo temporário que foi usado para resgatar a Irlanda e Portugal, e vai ajudar no segundo pacote grego.
Adriano Miranda
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Álvaro Lopes, 52 anos, desempregado. Vive numa casa
degradada no Porto. Desenvolveu uma relação demasiado
próxima com o álcool. Perdeu o RSI em Junho de 2012.
Faltou, de forma reiterada, à convocatória do Instituto
de Segurança Social. Está sem qualquer rendimento.
Ricardo Meireles
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VALONGO/PORTO
Uma mega urbanização com centenas de habitações
e novos edifícios públicos foi anunciada como a “Brasília”
de Valongo, a cidade moderna que emergiria em
terrenos de antigas pedreiras de lousa. Mas o projecto
megalómano da cidade dormitório do Porto acabou em
esqueletos de betão, um problema que o município, falido
e endividado, não tem meios para resolver. Por todo
o país, a falência funde-se na paisagem.
Vasco Célio
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PORTIMAO – CS Morgado do Reguengo
Projecto turistico no sope da serra de Monchique um campo de golfe, tres hoteis e varias dezenas de fogos destinados a segunda habitacao. Em 2012, depois de dois anos de dificuldades financeiras, o grupo Carlos Saraiva ve o financiamento bancario cortado. Sem condicoes para continuar o projecto, abandona-o, deixando no desemprego varias centenas de pessoas, desde empresas de construcao a funcionarios ja contratados para a operacao turistica. Comeca uma nova ruina, de um gigante projecto urbanistico abandonado, com uma marca indelevel na paisagem.
José Carlos Carvalho
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Lisandro
Cuidar para morrer
A primeira vez que fui a casa de Alina, no Seixal, era janeiro e estava muito frio. Sentado numa cadeira de bebé encontrada no lixo, Lisandro estava tapado com uma manta e perto de um aquecedor ligado que lhe garantia o conforto mínimo. Ali estava o rapaz, com “Trissomia 13”, caso único em Portugal, que todos diziam que não iria passar dos seis meses, mas que já estava a caminho do quarto ano de vida. Completamente dependente, Lisandro não falava, não andava, não comia por ele, só sopa passada, leite e iogurtes, usava fralda, etc.
Rapidamente, percebi que parte da explicação para a sobrevivência do filho estava no carinho, na ternura e no cuidado da mãe. E no creme de banho para a pele não assar, nas refeições todas passadas em forma de sopa, nos tratamentos com eucalipto fervido numa panela – o aerossol – para que a expetoração pudesse sair mesmo que para isso tivesse que pôr o dedo indicador na boca de Lisandro para o ajudar nessa tarefa. E na forma determinada como Alina apaziguava as cada vez mais constantes convulsões que, a partir da quarta ou quinta seguida, a obrigava a chamar os bombeiros para levar o filho ao hospital. Entretanto, Alina tentou durante mais de dois anos arranjar uma cadeira de rodas para Lisandro. Só no dia 18 de maio é que o seu desejo foi concretizado através da cantora Micaela, que conseguiu uma cadeira vinda da Suécia sem querer outra compensação a não ser uma fotografia, a registar o momento, para pôr no Facebook, ainda hoje o único registo de Lisandro em Portugal.
Nos primeiros cinco meses de 2012, fui inúmeras vezes a casa de Alina que confirmavam cada vez mais a minha teoria sobre a sobrevivência de Lisandro: as brincadeiras das irmãs eram importantes mas o segredo estava na mãe. Ela é que prolongou a vida desta criança.
Entretanto, o quarto aniversário de Lisandro estava à porta e a família preparou uma festa: dia 7 de junho, feriado. Resolvi surpreender, não o filho mas a mãe, com um retrato da família para pôr na parede da sala. Quatro dias antes da festa, no aeroporto de Madrid, em trânsito da Noruega, recebo a mensagem que me fez gelar mais do que os Fiordes de onde tinha partido: «O Lisandro faleceu esta madrugada.» Nos últimos seis meses, ouvi tantas vezes aquela conversa – «só dura 15 dias no máximo um mês, dos seis meses não passa, não chega a um ano, dois anos era um milagre, dos três anos é que não passa, não há registo que algum tenha passado» –, que não devia receber esta notícia com surpresa. Mas, na realidade, não estava à espera deste desfecho.
O meu trabalho estava a chegar ao fim, mas quis mostrar aquilo que era o mais triste e perturbador: o fim da vida de Lisandro. Fui ao funeral, fotografei e chorei. Não quis acabar sem passar uma mensagem de esperança à Alina, a mãe que mudou o rumo da história de Lisandro e da minha história. Uma semana depois da morte de Lisandro, regressei a sua casa com a fotografia com que contava surpreender a mãe no dia de aniversário do filho. Deixei-a no carro, por achar que o seu papel se alterara: agora, era o registo de uma realidade que já não existia. Sem saber do meu dilema e embaraço, Alina perguntou-me se eu não tinha uma foto da família que lhe pudesse oferecer. Foi a primeira vez que fiquei feliz ao ver as lágrimas de Alina. Lisandro