IRMÃS CASTILHO
"As míticas irmãs Castilho lançaram-se nos finais da década de 70 no Porto, cidade granítica, escura e a gozar os primeiros encantos da pós-revolução. Foram modelos, anorécticas, punks, criadoras de moda, personagens imaginárias da longa metragem que dirigem: a sua própria vida. Rumores de vício em anfetaminas e uma relação incestuosa são vestígios públicos das suas histórias. Criaram peças bizarras — sarcófagos convertidos em camas, luvas de látex sem dedos, mangueiras que viraram cintos." in VICE
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EURICO CEBOLO
"Na primeira vez que ouvi falar de Eurico A. Cebolo estive mais atento a detalhes da sua história do que propriamente ao nome: entrei na sua loja com uns amigos músicos, que comentaram sobre o facto de o dono do estabelecimento escrever livros de música e romances pornográficos. Rimos um pouco sobre o assunto, mas nunca mais me lembrei do caso. Só anos mais tarde, quando decidi aprender a tocar guitarra, reconheci o seu nome num livro que me indicaram, A Guitarra Mágica." in O CONSPIRADOR
PAULO ENO
"É uma das figuras portuguesas mais vistas no YouTube e tem clubes de fãs um pouco por todo o lado, até no México. Porquê? Tem 50 anos e dança vestido de Homem-Aranha no Bora Bora Beach Club, em Ibiza, desde 2001. É o animador de serviço e uma das figuras mais conhecidas do reduto raver de Espanha — vejam o vídeo dele com duas moças e digam-nos se a sua cara não é a expressão máxima da felicidade. Hedonista, comunista, técnico cultural na Câmara de Coimbra, ex-punk, músico experimental e dadaísta, eis Paulo Marques, também conhecido por Paulo Eno." in VICE
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"FEIOS, PORCOS E MAUS"
"Se queres um reencontro com o tempo, não deixes de ler esta história. Põe a chaleira ao lume e prepara também umas bolachinhas. Recosta-te no sofá e reconforta-te no cobertor. Podes trazer o teu computador e smartphone. Passa os olhos pela sala e repara no modo como apresentas e organizas os teus objectos. Se a tua bisavó estiver em casa, provavelmente vai gostar que leias em voz alta. Também podes relembrar-te uma vez mais das coisas que te faltam e como planeias alcançá-las. Como sabes, há provavelmente quem viva melhor, mas indico-te, então, que vamos abaixo da tua linha. Até posso dizer que vamos bem abaixo, onde os ofícios e as perspectivas mais naturais do homem comandam ainda algumas mentes livres — as que só têm um chapéu porque só têm uma cabeça." in VICE
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CAPITÃO ZÉ
"O Zé nasceu em Lisboa há 48 anos. O seu pai tinha uma rede de restaurantes, uma empresa de catering que distribuía comida nas prisões e era viciado em ondas e mulheres. Sempre que tinha algum tempo livre pegava nele e escapavam-se até à praia. Com quatro anos e em pleno caetanismo, o seu avô levava-o às touradas e a seguir às meninas, onde recorda os primeiros beijos e apalpões. A vida de play-boy do pai fez com que a família tivesse de rumar para o Brasil, depois de terem perdido os negócios em Portugal. Anos antes, enquanto frequentava o colégio, o Zé aprendeu os quatro estilos da natação, ganhou paixão pela água e ainda mais pelo mar. No outro lado do oceano, aventurou-se nas primeiras ondas e ripou-as com uma prancha de esferovite. Depois de dez anos de calor e folia regressou à grande Lisboa, onde o frio o levou à procura da euforia. O sonho foi mantido à custa dos químicos que o foram consumindo. Foram 15 anos a dormir sem a família e sem o mar." in VICE
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TEMPLÁRIOS DO ROCK
"Os Templários do Rock são uma banda de homens raros que conheci numa sala de ensaios no Centro Comercial Stop, no Porto. Antes disso só ouvira rumores: dois ex-polícias e, ocasionalmente, um camionista pegaram em guitarras, adoptaram os nomes de Templário Afonso e Templário Henriques e partiram para a criação de músicas e de um espectáculo que incorpora as tendências metalúrgicas medievais de séculos há muito passados, misturando-as com rock dos anos 70. Mais lutas de espada, pinturas faciais e, claro, uma atitude ameaçadora. Espero que esta descrição seja suficiente para toparem os contornos da cena sem ter de mandar para o ar referências culturais do rock, como Alice Cooper ou algo parecido. Estes gajos descrevem-se como sendo 'a melhor banda rock portuguesa de sempre'." in VICE
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FRANCISCO CAMPOS
"Se cirurgiões plásticos e designers de moda trabalhassem juntos tendo as modelos como cobaias, os consumidores seriam bem mais artificialmente felizes. Ostentaríamos não só aquele vestido Alexander Mcqueen em vias de extinção, mas também um corpo adaptado a ele — mais mamas, menos dedos dos pés, talvez tirássemos umas costelas e uns quilos de gordura. Aí sim, conquistaríamos o que tanto nos querem vender: o sonho. Francisco Campos assume-se como o melhor do mundo e deixou-nos espreitar algumas das suas obras. Na intimidade da sua casa, o homem que aparenta não ter medo de nada e que assume todas as suas cicatrizes, olhou-me fixamente e com a mão estendida disse-me: 'Miúda, vês a minha mão? Não treme, nem por um segundo.'” in VICE
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MAÇANA
"Há dois anos que o procurava. Ouvi a sua história pela primeira vez através de um amigo, que se mudou para o interior norte, e sempre me pareceu um relato evasivo, quase a roçar a lenda, fantasiado demais para ser verdade. Aos 18 anos, o homem a quem chamam de Maçana atravessou Espanha a pé, tendo por meta a fronteira francesa, esquivando-se assim de estourar o seu corpo em Angola. Foi abraçado pelo mundo boémio de artistas e mafiosos parisienses e testemunhou alturas marcantes da história dos anos 60 e 70. Voltou para se dedicar à vida de sapateiro e a um tipo de agricultura que lhe valeu uma ida a tribunal. Fui até uma vila perdida em Trás-os-Montes ouvir as suas memórias." in VICE
Ler o resto na Revista VICE: O CONDE LIMA - Um sapateiro de Sendim na corte parisiense - Revista Vice
FRÁGIL
"Os anos 80 foram uma década de impacto, de dúvidas, de grandes transformações sociais, de movimentos extremistas. Ainda cheio de borbulhas na cara, eu vivia a alguns quilómetros de distância do Porto, mas de lá chegavam histórias de gajos com cristas, de punks, rockabillies, skinheads e confrontos na rua. A cidade estava envolta numa atmosfera pós-revolução — que a minha tia apelidava de libertinagem — que se manifestava frequentemente em várias formas de expressão artística, desde a música aos primeiros graffitis. O encontro que tive com o Frágil — um dos primeiros punks do norte de Portugal, famoso pelas suas actuações como vocalista dos Renegados de Boliqueime — foi uma visita guiada, na primeira pessoa, à vida de um punk." in VICE
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EDIBERTO LIMA
"É o responsável pela nova maneira de ver televisão em Portugal desde que, em 1992, apareceu o primeiro canal privado. Foi o produtor de Super Bueréré, Muita Lôco e Big Show — programas que mudaram a paisagem televisiva do país. Depois de ter saído da SIC pela porta pequena, Ediberto Lima, que lançou recentemente o livro O Deus e o Diabo da Televisão em Movimento, está de volta, agora ao comando da Regiões TV, um mini canal do cabo, de onde pretende liderar o ataque às generalistas." in VICE
Ler o Resto na Revista VICE: O REI DA TELEVISÃO EM MOVIMENTO - Revista Vice
Nuno Miranda - Nascido no Porto em 1977. Estudou e trabalhou em Londres durante oito anos, onde foi correspondente para revistas portuguesas de referência. Actualmente, vive e trabalha no Porto e é o director editorial da VICE em Portugal.
