quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Campanha
Porto, 13 Dezembro 2011
Fotos:Paulo Pimenta
Já reparou que as mulheres portuguesas têm grandes e belas cabeças?
Nem todos os trabalhos que permitem ganhar a vida honestamente são fáceis de fazer. Alguns são verdadeiramente difíceis e duros, até sujos. Outros são apenas complicados. Há ainda trabalhos em que um indivíduo se humilha e embrutece e, enfim, aqueles relativamente aos quais nem sequer se sabe muito bem o que pensar. A tarefa de colar cartazes publicitários como aqueles supra não será, ainda assim, das mais desagradáveis, por muito mal remunerado que seja. Ainda que não se trate de uma tarefa socialmente estimada, está-se ao ar livre, em boa companhia e a paisagem também não é má de todo. Se um morcão for capaz de refrear as expectativas e não padecer de espondilose ou de qualquer outra maleita que lhe tolha os movimentos, é, assim, perfeitamente capaz de colocar as várias partes do reclame no sítio devido, alisando as engelhas do papel onde elas têm que ser aplanadas com gestos muitíssimo profissionais e competentes, sem malícia nenhuma, ou sem que lhe ocorra qualquer corruptela do rifão segundo o qual vale mais uma pomba na mão do que duas a voar. No final, porém, ainda há alguma coisa que não bate certo. Luísa Beirão e Andreia Rodrigues parecem moças simpáticas e saudáveis, bem tratadas no Photoshop e harmoniosamente servidas de redondezas, pelo que tudo estaria muito bem e bonito, incluindo a respectiva lingerie, tudo em harmonia e festa, como se a Primavera tivesse chegado mais cedo à cidade e outras coisas muitíssimo poéticas pudessem ocorrer a quem, passando, contemplasse as ninfas imóveis e bidimensionais. Analisando mais atentamente os cartazes nas suas diversas versões, a estranheza apenas se adensa, pois as jubilosas moças parecem possuir enormes, desproporcionadas cabeças. Não me ocorrendo responsabilizar desse defeito os zelosos funcionários que colam os cartazes, fico, todavia, matutando, sem chegar a concluir se foram elas que emagreceram demais ou se, por outra, foram as cabeças que lhes cresceram desmesuradamente, quiçá por saberem de cor o teorema de Pitágoras, o peso exacto do Bosão de Higgs e a poesia completa de Cesário Verde.
Manuel Jorge Marmelo
Porto, 13 Dezembro 2011
Fotos:Paulo Pimenta
Já reparou que as mulheres portuguesas têm grandes e belas cabeças?
Nem todos os trabalhos que permitem ganhar a vida honestamente são fáceis de fazer. Alguns são verdadeiramente difíceis e duros, até sujos. Outros são apenas complicados. Há ainda trabalhos em que um indivíduo se humilha e embrutece e, enfim, aqueles relativamente aos quais nem sequer se sabe muito bem o que pensar. A tarefa de colar cartazes publicitários como aqueles supra não será, ainda assim, das mais desagradáveis, por muito mal remunerado que seja. Ainda que não se trate de uma tarefa socialmente estimada, está-se ao ar livre, em boa companhia e a paisagem também não é má de todo. Se um morcão for capaz de refrear as expectativas e não padecer de espondilose ou de qualquer outra maleita que lhe tolha os movimentos, é, assim, perfeitamente capaz de colocar as várias partes do reclame no sítio devido, alisando as engelhas do papel onde elas têm que ser aplanadas com gestos muitíssimo profissionais e competentes, sem malícia nenhuma, ou sem que lhe ocorra qualquer corruptela do rifão segundo o qual vale mais uma pomba na mão do que duas a voar. No final, porém, ainda há alguma coisa que não bate certo. Luísa Beirão e Andreia Rodrigues parecem moças simpáticas e saudáveis, bem tratadas no Photoshop e harmoniosamente servidas de redondezas, pelo que tudo estaria muito bem e bonito, incluindo a respectiva lingerie, tudo em harmonia e festa, como se a Primavera tivesse chegado mais cedo à cidade e outras coisas muitíssimo poéticas pudessem ocorrer a quem, passando, contemplasse as ninfas imóveis e bidimensionais. Analisando mais atentamente os cartazes nas suas diversas versões, a estranheza apenas se adensa, pois as jubilosas moças parecem possuir enormes, desproporcionadas cabeças. Não me ocorrendo responsabilizar desse defeito os zelosos funcionários que colam os cartazes, fico, todavia, matutando, sem chegar a concluir se foram elas que emagreceram demais ou se, por outra, foram as cabeças que lhes cresceram desmesuradamente, quiçá por saberem de cor o teorema de Pitágoras, o peso exacto do Bosão de Higgs e a poesia completa de Cesário Verde.
Manuel Jorge Marmelo