Vende-se
Em 2013, durante um ano, com cada vez menos encomendas
dos jornais e revistas para onde trabalhava, o fotógrafo Augusto Brázio, sem
objectivo predefinido, procura uma forma de dar continuidade à sua prática.
Começa a percorrer as ruas de Lisboa. Rapidamente, confronta-se com sinais de fractura na paisagem urbana. Lojas
fechadas. No centro de Lisboa e nos subúrbios mas também no Porto, no Algarve,
no Norte de Portugal, são centenas, milhares de lojas fechadas. Algumas parecem
ainda ter o sinal “Volto já” afixado na porta; noutras, vê-se já indícios de ruína e desmoronamento. Pelos
efeitos conjugados da nova Lei do Arrendamento Urbano (que facilita a expulsão
dos arrendatários), da queda brutal do consumo interno e do aumento dos
impostos, os comerciantes são confrontados com situações economicamente
insustentáveis. Por outro lado, os proprietários querem recuperar os seus
imóveis e aproveitar a onda de turismo que varre Portugal; querem construir
hotéis de charme, abrir lojas “gourmet”, vender produtos típicos.
Mas, para quem visite Portugal de passagem, será que a
“crise” se vê? Quem procura destroços de bombas artesanais,
manifestantes furiosos ou pessoas a morrer de fome na rua, não os encontrará. A
crise não tem a espectacularidade do Terramoto de 1755 que arrasou Lisboa. A
crise apaga mas não destrói. Tapa. As coisas são silenciosamente substituídas.
Desaparecem como se nunca tivessem existido (como se nunca devessem ter perdurado tanto tempo). Estas
lojas fechadas são uma brecha por onde se vê os efeitos da crise.
David Guéniot
BIO
AUGUSTO BRÁZIO | Fotógrafo.
[Brinches (Serpa.PT): 1964].
Estudou na Escola Superior de Belas Artes,
Lisboa.
Iniciou o seu percurso como fotógrafo no
começo dos anos ’90 do séc. XX, trabalhando na imprensa.
Paralelamente colaborou com a produtora de
musical União Lisboa, onde realizou diversos trabalhos com músicos.
Em 1996, começou a colaborar na revista DNA,
do Diário de Notícias, onde, até 2006, assinou inúmeros trabalhos na área do
documental e do retrato.
Em 2004, foi convidado a integrar o colectivo
de fotógrafos Kameraphoto, onde desenvolveu diversos projectos, pessoais e
colectivos.
Colabora regularmente com diversas
publicações internacionais.
Foi, em 2008, prémio de fotojornalismo
Visão/BES.
Nos últimos anos, focou-se
em projectos pessoais, onde reflecte sobre questões de
imigração, pertença e ocupação do território.
Os seus trabalhos estão representados em
várias colecções públicas e privadas.