Concerto Spain Hard Club
Porto, 19 Maio 2012
Fotos:Paulo Pimenta
Passaram 13 anos desde a última visita dos Spain ao Porto. Entretanto, o Hard Club, ‘habitat musical’ que se tinha convertido num sítio-ícone, venerado por bandas e espectadores, mudou da Margem Sul (sim, também temos disso nestas paragens) para a Margem Norte do Douro. Em 1999 a banda confrontou-se com uma adesão tão massiva, quanto inesperada de fãs, de tal sorte que o trânsito havia de ressentir-se e entupir os acessos ao local do concerto. A contrastar com esta descrição, o espetáculo de sábado passado traduziu o perfil intimista da banda, até no modo discreto como encararam o palco e o público. Num concerto dividido em duas partes, fizeram desfilar na íntegra o último álbum de originais que acabam de editar “The Soul of Spain”, de 2012, após um período sabático de uma década. Josh Haden, filho do mítico Charlie Haden, músico do território jazz, soube sempre as tarefas que incumbem a um bom mestre-de-cerimónias, ao longo de duas horas. Num concerto em que os músicos se apresentaram numa toada de solenidade espiritual, uma tribo copiosamente ecuménica e conhecedora acolheu-os com o espírito recetivo de quem estava no local apenas e só pelo prazer da música, o que não é tão pouco. It's So True abriu o ritual celebrativo, seguiram-se-lhe de uma assentada os temas Ten Nights e Dreaming of Love, e não tardou muito até que os músicos norte americanos abordassem com igual profissionalismo Untitled #1. A atmosfera vivenciada assemelhava-se e muito à que se vive no Teatro António Lamoso, aquando do Festival para Gente Sentada. E o peso da atitude de um certo recolhimento por parte dos músicos, não tardou em despertar uma intenção fraturante por parte de um elemento do público, que atirou um sonoro “Boa Noite!” Spiritual deu o mote para o ritual celebrativo em que o poder de interpretação de Haden mais se acentuou ao nível vocal. Pouco tempo depois desta última prece performativa, e ainda ao sabor de um deleitada fruição por parte do público, o líder anuncia uma inusitada interrupção de dez minutos, que se registou ao fim de uma hora e uma boa dezena de temas interpretados. Em formato de quinteto, os músicos regressam para uma segunda parte, também ela preenchida, para o efeito Haden está acompanhado nesta digressão pela formação atual: Daniel Brummel na guitarra, elemento que passou a integrar o grupo em 2009, de Matt Mayhall, na bateria, do contributo do membro ‘emprestado’ Dylan McKenzie, noutra guitarra, e pelo ambivalente Randy Kirk, timoneiro das teclas e que se incumbe da terceira guitarra da banda. No segundo capítulo houve matéria musical percorrida cuja incidência recaiu nos álbuns anteriores, “She Haunts My Dreams”, de 1999, e em “I Believe”, com chancela registada em 2001. E um dos temas mais festejados deste período, mesmo em estilo de contenção festiva, foi o homónimo do álbum de 1999. Our Love is Gonna Live Forever haveria de sinalizar o cair do pano, mas não sem um encore para findar em tom de cortesia para com a insistência do público. E afinal, queremos que todos saibam, sem secretismos, que Nobody Has to Know foi a derradeira. Um concerto em duas partes em que a comunhão foi logo à primeira, mas também foi solene… João Fernando Arezes