domingo, 30 de janeiro de 2011
# Fotografa convidada do mês Fevereiro Lúcilia Monteiro #
Era uma vez um hotel…
Era belo, charmoso e elegante.
Todos os dias passavam por ele seres bonitos, perfumados, elegantes, bem vestidos. E importantes.
Estava sempre fresco e os seus corredores e escadarias e corrimões brilhavam.
Sentia-se importante, vaidoso, ao ouvir elogios de todos. Havia sempre encontros e festas cheias de pompa.
Era um mundo de sonho.
Até que, em 1974, foi abandonado a pouco e pouco. Todos desapareceram e ficou sozinho, ao vento e ao pó.
Estava morto.
Um dia apareceram uns seres assustados, fugindo de uma guerra. Ocuparam o seu corpo abandonado,
No início sentia-se revoltado e irritado. Estranhava aquela gente que tinha uma forma diferente estar.
Com o tempo habituou-se. Sentia-se útil. Acompanhado.
Abrigava centenas de pessoas que nada tinham.
Dava-lhes um tecto e segurança.
Passou a ser um enorme lar, de muitas famílias. Todos os dias, mulheres, velhos e crianças andam por ali, lutando pela sobrevivência.
Ressuscitou.
O seu corpo velho, com musgos e plantas que o invadiram, sem o brilho e o perfume, continua a ser do Grande Hotel de Beira.
Lúcilia Monteiro Fotojornalista da Revista Visão
# Fotoleg:Tapada,Tapadinha #
Tapada, tapadinha, bem escondida, que a República já teve melhores dias. E alguns bem piores, mas enfim. É nova em folha e já fez estragos. Por causa dela, transferiu-se o “Rapto de Ganimedes”. Habituado que estava à única casa que se lembra de ter tido, a escultura foi remetida para o Jardim da Cordoaria. Tudo por causa dela. Argumentam que o Rapto até nem tem nada que ver com a República que dá nome à praça. Que é romântico e que, por isso, está melhor na Cordoaria. Não se sabe o que pensa o desalojado. Mas a nova figura que promete captar o interesse dos pombos que sobrevoam a Praça da República está pronta para ser mostrada ao mundo. Vai ser inaugurada a 31 de Janeiro. Data conveniente. As formas já se percebem por baixo do pano negro, aguçando a curiosidade. Como será? Uma coisa é certa: Ganimedes nunca verá o seu rosto. A menos que, por causa de alguma peça mais romântica do que ele, volte a ser mudado e lhe arranjem, de novo, um cantinho qualquer, mais pequeno que um T0, lá para os lados da República.
Patricia Carvalho Jornalista
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
Concerto Joanna Newsom
Casa D a Música
Porto, 24 Janeiro 2011
Fotos:Paulo Pimenta
Joanna a ‘élfica ninfa’...
(en)cantou na Casa da Música
Pode até parecer demasiado enfático, mas a melhor das sensações que um espectador ou melómano pode experimentar é a de estar em Janeiro, o ano mal começou, e de já ter sido presenteado com um dos concertos do ano. O tiro de partida foi dado por Alasdair Roberts e, mesmo actuando a solo, o músico escocês foi portador de uma sonoridade que, a espaços, nos amansou a nostálgica ausência de um Festival Intercéltico (um crime de lesa-património musical cometido pelo actual executivo camarário e ainda não reparado, deve dizer-se). Ainda com o público em ponto-morto, o músico dedilhou meia-dúzia de temas interessantes e deixou no ar a certeza de que alguns curiosos o vão acompanhar.
Após um intervalo cu(o)mprido, fez-se escuro na plateia para que se fizesse luz no palco: Joanna Newsom entra com um vestido a roçar a cor-de-fogo, com um corte ‘mini-mini’, disposta “a incendiar as almas”, no bom sentido é claro, até porque a ideia de Purgatório esteve sempre muito afastada destas paragens. De resto, a californiana conseguiu levar muita gente ao Céu logo no primeiro tema em que tangeu a harpa, o magnífico “The Book of Right-on”, do primeiro álbum da artista The Milk-Eyed Mender. Mostrou destreza ao piano, mas reconhece(-se) que é exímia na harpa. A figura luminosa de Joanna invadiu o espaço, apoiada num quinteto de reconhecida valia, onde sem cometer o pecado da discriminação se destacam o multi-instrumentista Ryan Francesconi, que a seu cargo teve a flauta, as guitarras acústica e eléctrica, o banjo, o bandolim e a voz, bem como Neal Morgan na bateria e percussões. O trombone e os violinos também não desmereceram e afinaram pelo mesmo diapasão.
Num registo musical que podemos situar entre uma folk naif e a música medieval europeia, Joanna Newsom revela uma ímpar capacidade de variação vocal, autêntica, perene de originalidade e que traça algumas secantes de legado de influência, mais a Kate Bush do que a Cat Power. Temas para guardar no baú do ouvido, para além da referenciada e entre muitas outras: “Peach, Plum, Pear”, também de Milk-Eyed, Mender a que acresce um dos grandes momentos da noite proporcionado por “Baby Birch”, do terceiro e último álbum Have One On Me. Para quem vinha à espera da figura de uma neo-hippie é melhor fazer uma actualização dos ficheiros, a ninfa da harpa mágica deixou, ainda que por momentos, a floresta encantada. Por falar nisso, quando é que volta?
João Fernando Arezes
Casa D a Música
Porto, 24 Janeiro 2011
Fotos:Paulo Pimenta
Joanna a ‘élfica ninfa’...
(en)cantou na Casa da Música
Pode até parecer demasiado enfático, mas a melhor das sensações que um espectador ou melómano pode experimentar é a de estar em Janeiro, o ano mal começou, e de já ter sido presenteado com um dos concertos do ano. O tiro de partida foi dado por Alasdair Roberts e, mesmo actuando a solo, o músico escocês foi portador de uma sonoridade que, a espaços, nos amansou a nostálgica ausência de um Festival Intercéltico (um crime de lesa-património musical cometido pelo actual executivo camarário e ainda não reparado, deve dizer-se). Ainda com o público em ponto-morto, o músico dedilhou meia-dúzia de temas interessantes e deixou no ar a certeza de que alguns curiosos o vão acompanhar.
Após um intervalo cu(o)mprido, fez-se escuro na plateia para que se fizesse luz no palco: Joanna Newsom entra com um vestido a roçar a cor-de-fogo, com um corte ‘mini-mini’, disposta “a incendiar as almas”, no bom sentido é claro, até porque a ideia de Purgatório esteve sempre muito afastada destas paragens. De resto, a californiana conseguiu levar muita gente ao Céu logo no primeiro tema em que tangeu a harpa, o magnífico “The Book of Right-on”, do primeiro álbum da artista The Milk-Eyed Mender. Mostrou destreza ao piano, mas reconhece(-se) que é exímia na harpa. A figura luminosa de Joanna invadiu o espaço, apoiada num quinteto de reconhecida valia, onde sem cometer o pecado da discriminação se destacam o multi-instrumentista Ryan Francesconi, que a seu cargo teve a flauta, as guitarras acústica e eléctrica, o banjo, o bandolim e a voz, bem como Neal Morgan na bateria e percussões. O trombone e os violinos também não desmereceram e afinaram pelo mesmo diapasão.
Num registo musical que podemos situar entre uma folk naif e a música medieval europeia, Joanna Newsom revela uma ímpar capacidade de variação vocal, autêntica, perene de originalidade e que traça algumas secantes de legado de influência, mais a Kate Bush do que a Cat Power. Temas para guardar no baú do ouvido, para além da referenciada e entre muitas outras: “Peach, Plum, Pear”, também de Milk-Eyed, Mender a que acresce um dos grandes momentos da noite proporcionado por “Baby Birch”, do terceiro e último álbum Have One On Me. Para quem vinha à espera da figura de uma neo-hippie é melhor fazer uma actualização dos ficheiros, a ninfa da harpa mágica deixou, ainda que por momentos, a floresta encantada. Por falar nisso, quando é que volta?
João Fernando Arezes
domingo, 23 de janeiro de 2011
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
Porto,05 Janeiro 2011
Clube Literário do Porto
Às vezes João, ‘Habitualmente’ Luís...
Foi com uma sala a rebentar pelas costuras que o Clube literário do Porto acolheu a última sessão da tertúlia poética “Quartas Malditas” cuja realização se verificou anteontem, dia 5 de Janeiro. O convidado era nem mais, nem menos do que João Habitualmente, pseudónimo literário de Luís Fernandes, docente na Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto e especialista em matéria de comportamentos desviantes na mesma instituição. E começou por fazer jus à condição, a julgar pelo desvio mobilizador de gente composta por amigos, colegas, admiradores e simples curiosos que fizeram com que os lugares de vago na plateia fossem uma miragem. Ao longo de aproximadamente duas horas, entre a leitura dos poemas do autor pelo núcleo habitual de declamadores, uma conversa animada com o coordenador da tertúlia Anthero Monteiro e algumas provocações ao público, o autor disparou de forma agradavelmente desconcertante sobre a vida de Luís e o ‘alter(ne)-ego’ de João. Assumiu a poesia “como algo de utilitário e pragmático” e que sobretudo “serve para nos libertar da rotina pesada do quotidiano”. “A Poesia é para comer!”, repetiu ainda. E para além do valor nutritivo da poesia, e entre muitas outras coisas a que fez referência, confessou o interesse tardio pela escrita do único português Prémio Nobel da Literatura e classificou de “excelente, a moda de ler Saramago”. A empatia com o poeta registou uma toada crescente e não raras vezes o espaço foi invadido por uma gargalhada geral. Mais do que tudo isso, a fogosidade erótica da poesia de João Habitualmente permaneceu nas mentes. É que às vezes para estudar Psicologia, primeiro há que perceber de “Anatomia”. O João é assim que faz, o Luís não sabemos (ou será o contrário?!), mas há um traço de união: o desvio para as curvas. Houve tempo ainda para a animação musical a cargo de Rui Paulino David que se encarregou de dar corda(s) à guitarra e deve dizer-se que o ex-jornalista da RTP demonstrou classe e mestria quando para o reportório convocou Fausto, Rui Veloso, Vitorino e até Rita Lee. Se é assim nas versões, o que não fará com originais. Vai por certo valer a pena esperar…
O programa segue dentro de momentos, que o mesmo é dizer, é já a 13 de Janeiro que João Habitualmente vai ‘surfar’ na próxima “Onda Poética”, tertúlia que reúne todas as segundas quintas-feiras do mês, em Espinho.
João Fernando Arezes
Clube Literário do Porto
Às vezes João, ‘Habitualmente’ Luís...
Foi com uma sala a rebentar pelas costuras que o Clube literário do Porto acolheu a última sessão da tertúlia poética “Quartas Malditas” cuja realização se verificou anteontem, dia 5 de Janeiro. O convidado era nem mais, nem menos do que João Habitualmente, pseudónimo literário de Luís Fernandes, docente na Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto e especialista em matéria de comportamentos desviantes na mesma instituição. E começou por fazer jus à condição, a julgar pelo desvio mobilizador de gente composta por amigos, colegas, admiradores e simples curiosos que fizeram com que os lugares de vago na plateia fossem uma miragem. Ao longo de aproximadamente duas horas, entre a leitura dos poemas do autor pelo núcleo habitual de declamadores, uma conversa animada com o coordenador da tertúlia Anthero Monteiro e algumas provocações ao público, o autor disparou de forma agradavelmente desconcertante sobre a vida de Luís e o ‘alter(ne)-ego’ de João. Assumiu a poesia “como algo de utilitário e pragmático” e que sobretudo “serve para nos libertar da rotina pesada do quotidiano”. “A Poesia é para comer!”, repetiu ainda. E para além do valor nutritivo da poesia, e entre muitas outras coisas a que fez referência, confessou o interesse tardio pela escrita do único português Prémio Nobel da Literatura e classificou de “excelente, a moda de ler Saramago”. A empatia com o poeta registou uma toada crescente e não raras vezes o espaço foi invadido por uma gargalhada geral. Mais do que tudo isso, a fogosidade erótica da poesia de João Habitualmente permaneceu nas mentes. É que às vezes para estudar Psicologia, primeiro há que perceber de “Anatomia”. O João é assim que faz, o Luís não sabemos (ou será o contrário?!), mas há um traço de união: o desvio para as curvas. Houve tempo ainda para a animação musical a cargo de Rui Paulino David que se encarregou de dar corda(s) à guitarra e deve dizer-se que o ex-jornalista da RTP demonstrou classe e mestria quando para o reportório convocou Fausto, Rui Veloso, Vitorino e até Rita Lee. Se é assim nas versões, o que não fará com originais. Vai por certo valer a pena esperar…
O programa segue dentro de momentos, que o mesmo é dizer, é já a 13 de Janeiro que João Habitualmente vai ‘surfar’ na próxima “Onda Poética”, tertúlia que reúne todas as segundas quintas-feiras do mês, em Espinho.
João Fernando Arezes
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