











Era uma vez um hotel…
Era belo, charmoso e elegante.
Todos os dias passavam por ele seres bonitos, perfumados, elegantes, bem vestidos. E importantes.
Estava sempre fresco e os seus corredores e escadarias e corrimões brilhavam.
Sentia-se importante, vaidoso, ao ouvir elogios de todos. Havia sempre encontros e festas cheias de pompa.
Era um mundo de sonho.
Até que, em 1974, foi abandonado a pouco e pouco. Todos desapareceram e ficou sozinho, ao vento e ao pó.
Estava morto.
Um dia apareceram uns seres assustados, fugindo de uma guerra. Ocuparam o seu corpo abandonado,
No início sentia-se revoltado e irritado. Estranhava aquela gente que tinha uma forma diferente estar.
Com o tempo habituou-se. Sentia-se útil. Acompanhado.
Abrigava centenas de pessoas que nada tinham.
Dava-lhes um tecto e segurança.
Passou a ser um enorme lar, de muitas famílias. Todos os dias, mulheres, velhos e crianças andam por ali, lutando pela sobrevivência.
Ressuscitou.
O seu corpo velho, com musgos e plantas que o invadiram, sem o brilho e o perfume, continua a ser do Grande Hotel de Beira.
Lúcilia Monteiro Fotojornalista da Revista Visão